9. [Especial] Automattic vs. WP Engine

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Nos últimos dias, começou um WPdrama que parece ser um momento histórico para o WordPress, envolvendo a Automattic e a WP Engine.

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Program transcript

Olá, eu sou José Freitas e estás a ouvir WPpodcast, num episódio especial.

Estes últimos 10 dias foram dos mais complexos para o WordPress, e não por causa do software em si, mas em termos da comunidade e do seu ecossistema.

Devo avisar que nesta situação que vou explicar, existem claramente quatro lados: os que estão do lado da Automattic, os que apoiam a WP Engine, os que estão no centro da comunidade WordPress e os que não fazem ideia – nem se importam – com o que está a acontecer.

A situação tem muitas facetas, pelo que tentarei ser o mais organizado possível, tanto do ponto de vista nível cronológica como objetivo.

Embora isto tenha começado há algum tempo, há cerca de 18 meses, o conflito estalou de forma vísivel durante a apresentação de Matt Mullenweg no WordCamp US. Matt Mullenweg é co-criador do WordPress e fundador da Automattic, a empresa por detrás do WordPress.com, e está na base da maioria das ações da WordPress Foundation, incluindo as suas marcas registadas para uso comercial.

Nesta apresentação, ao contrário da maioria, Matt não se focou muito no WordPress enquanto produto, mas sim na necessidade de contribuição para o projeto. Fê-lo falando sobre grandes empresas e investimentos. A certa altura, mencionou a Silver Lake, o fundo de investimento por detrás de um fornecedor de alojamento chamado WP Engine, que é bem conhecido entre os participantes e a comunidade.

Sem entrar em muitos detalhes, o resumo é que a WP Engine gera centenas de milhões de dólares em lucro e dedica apenas 40 horas ao projeto Five for the Future. Além disso, também usaram indevidamente as marcas registadas WordPress ou WooCommerce, entre outras.

O burburinho começou logo após o término do WordCamp, com a publicação de um artigo no blog oficial do projeto WordPress chamado WP Engine is Not WordPress , explicando como esta empresa de alojamento cria uma alegada confusão com a marca WordPress e o que esta oferece. Fez ainda referência ao que foi dito no evento: a WP Engine gera 500 milhões de dólares em lucros e contribui apenas com 40 horas, enquanto a Automattic contribui com quase 4.000 horas por semana.

Talvez a parte mais surpreendente do artigo tenha sido a longa explicação de que a WP Engine desativa, por omissão, as revisões de conteúdo – uma funcionalidade configurável através do ficheiro de configuração. É também de notar que a própria documentação do WordPress recomenda limitar as revisões, tanto na documentação do utilizador como na documentação avançada.

De acordo com Matt, a WP Engine não oferece WordPress porque é uma versão modificada do software.

Sem entrar muito no debate, é importante lembrar que o WordPress é distribuído sob a Licença Pública Geral (GPL), que concede quatro liberdades:

  • A liberdade de utilizar o programa para qualquer fim.
  • A liberdade de estudar o funcionamento do programa e modificá-lo para se adequar às suas necessidades.
  • A liberdade de o redistribuir.
  • A liberdade de distribuir cópias das suas versões modificadas a terceiros.

No artigo, utiliza uma linguagem dura para descrever a empresa:

Esta é uma das muitas razões pelas quais são um cancro para o WordPress, e é importante lembrar que sem controlo o cancro se espalha. A WP Engine está a estabelecer um mau padrão que outros podem observar e achar que não há problema em replicar. Devemos estabelecer um padrão mais elevado para garantir que o WordPress estará aqui nos próximos 100 anos.

Na internet, sabemos que alguém pode acender um fósforo para iluminar momentaneamente um quarto escuro em Londres e, antes que se dê conta, a floresta da Amazónia está em chamas. E foi isso que aconteceu.

Sem aprofundar as questões legais, a WP Engine emitiu um pedido de cessação e desistência contra a Automattic.

Embora os colaboradores do projeto tenham permanecido em grande parte à margem no Slack, o chat oficial do WordPress, houve algum movimento no canal Hosting, onde alguns colaboradores levantaram a mão para questionar se o blog oficial do WordPress era o local certo para este artigo e, portanto, se deveria ser distribuído no painel de administração de todas as instalações do WordPress em todo o mundo.

Um utilizador específico, Ángel Plaza, publicou um artigo intitulado WordPress.com is Not WordPress, referenciando o mesmo título do blog oficial, explicando que esta empresa de alojamento também se envolve em algumas práticas que limitam a funcionalidade do WordPress.

A resposta de Matt foi rápida:

Obrigado pela sua opinião, mas em última análise, tenho o controlo final do wordpress.org e acredito que este post é apropriado para aparecer em todos os painéis de administração de todas as instalações do WordPress, porque o que a WP Engine está a fazer é tão prejudicial que tem sido um padrão há anos e tentei resolvê-lo durante 18 meses.

A conversa continuou, com Matt a continuar a exigir que o WP Engine contribua com 4.000 horas por semana ou o que consideram proporcional às suas receitas, mencionando também que, por outro lado, há a batalha legal sobre uso de marca registada.

É importante notar que pouco depois, Ángel foi banido do Slack sem aviso prévio, embora não tenha sido a única pessoa bloqueada durante este processo.

Em várias plataformas e redes sociais, a batalha já tinha começado, com muita gente a tomar partido. Mas o que estava a ficar claro era que, de qualquer forma, quem perdia era a Comunidade WordPress, independentemente do resultado.

Neste ponto, as discussões dividiam-se geralmente em três áreas muito distintas:

  • Contribuição, que ninguém contesta ser necessária para um projecto de código aberto, embora em todo o lado, incluindo no Five for the Future, esteja claramente afirmado que não é obrigatório, embora saibamos que é moralmente necessário para a sustentabilidade do projecto;
  • A utilização de marcas registadas, onde as opiniões e pontos de vista variam, e isto tem sido um problema há muito tempo com o tratamento de marcas comerciais pela Automattic e de marcas não comerciais pela WordPress Foundation;
  • E a liberdade para qualquer pessoa utilizar o software, modificá-lo e, em última análise, a natureza de código ‘open source’.

O passo seguinte surgiu quando começaram os rumores de que a WP Engine estava a bloquear o widget que mostra eventos e notícias no painel de administração. Recordemos que um dos objetivos de Matt era fazer com que aquele artigo aparecesse em todas as instalações do WordPress em todo o mundo, incluindo as que estão alojadas na WP Engine.

Seguiu-se a publicação pela Automattic da sua própria carta de cessação e desistência sobre a utilização de marcas registadas.

Pouco depois, surgiu um novo artigo no blog oficial: WP Engine foi banido do WordPress.org. O artigo deixou claro que a WP Engine precisa de uma licença para utilizar o WordPress e, por precaução, o acesso às redes da WP Engine foi bloqueado enquanto a situação é resolvida. O raciocínio citado foi que a WP Engine não contribui para o projeto, embora os sites que aloja consumam os dados de WordPress.org.

Esta última mudança gerou ainda mais controvérsia, uma vez que agora impede os utilizadores do WordPress alojados na WP Engine de atualizarem os plugins, temas ou o core automaticamente através do recurso de atualização automática.

E aqui voltamos aos mais afetados: utilizadores que muitas vezes nem sabem onde está alojado o seu site WordPress. Muitas agências estavam a pedir a Matt que levantasse a proibição devido aos danos económicos que esta lhes causava.

Na sexta-feira, o WordPress.org anunciou um levantamento temporário das restrições, permitindo a WP Engine até terça-feira criar espelhos dos sistemas que utiliza, enquanto os utilizadores podem realizar a manutenção necessária.

A partir de 1 de outubro, às 00h00 UTC, voltaremos à situação que estamos a enfrentar.

O próximo capítulo ainda não foi escrito.

E, por fim, este podcast é distribuído sob uma licença Creative Commons como uma versão derivada do podcast em espanhol; pode encontrar todos os links para mais informações e o podcast noutras línguas em WPpodcast .org.

Obrigado por ouvires e até ao próximo episódio!

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